CÉSAR BELIENY

terça-feira, março 21, 2006

Os Desbravadores e os Atalhos

Imagine uma mata fechada, caminhos inexplorados, lugares de difícil acesso, poucas ferramentas para ceifar uma trajetória, os perigos que possam habitar uma provável selva, escolhas, rumos a tomar, a direção, norte, sul, leste, oeste, tudo que envolve um conceito de desbravamento e uma busca em torno de um horizonte obscuro e desconhecido. Diante desse quadro imaginário faça um paralelo com as dificuldades conhecidas de todo aquele que nasce em solo excluído.
Os desbravadores, que podem ser classificados em diversos e indefinidos seguimentos ou funções na sociedade, profissionais das mais variadas aptidões, constroem nesta mata fechada suas desacreditadas trilhas, mesmo porque enquanto não se chega ao objetivo almejado, sofrerão com o ceticismo do próprio povo que vive na exclusão. Mas quando esses desbravadores atingem ao tão sonhado ponto estável, percebem que deixaram para trás um rastro que é automaticamente seguido, e passam a ter a responsabilidade (nem sempre consciente) de indicar os atalhos do caminho!
Muitos dizem que fazemos o nosso próprio caminho. Fazemos sim, mas na medida que abrimos nossos ouvidos para a experiência de quem os desbravou, não necessitamos mais (se formos espertos) temos de passar em trajetos que só tomam, ou melhor roubam nosso tempo retardando a chegada ao objetivo.
Mas quem são seus desbravadores? Já fez usufruto de algum atalho? Inicialmente, comigo foram meus pais. Depois muitos outros vieram, a vida foi e vai sempre me apontando alguns outros exemplos de comportamento e me capacitando a discernir “os atalhos” das “armadilhas”, porque nem todos no caminho são de fato desbravadores, existem uma gama de aproveitadores do destino alheio, esperando a escolha de um rumo a seguir, para copia-lo, sem traçar sua própria trilha.
Com a graça de Deus chegará o dia em que os caminhos, trilhas e trajetórias serão acessíveis a todos, sem a necessidade de se desbravar, de forma que toda essa condição geográfica que impossibilita a chegada da tão esperada INCLUSÃO SOCIAL será totalmente absorvida pelas AÇÕES AFIRMATIVAS, ações de pessoas que objetivam uma melhor perspectiva de vida para a comunidade (mesmo sem morar nela), buscando o mínimo de dignidade e cidadania, indo direto, sem escalas, na raiz do problema, ou seja, a EDUCACÃO, usando a forma mais saudável entre outras de se combater a alienação promovida pelo sistema, a CULTURA, onde engloba diferentes maneiras de fazer o cidadão se sentir incluso, respeitado e verdadeiramente mais um desbravador!
Gostaria de citar (sabendo da existência de muitos outros) alguns desbravadores, fabricantes de atalhos, praticantes de ações afirmativas como: FASE, AFROREGGAE, CUFA, em especial o CECIP, a quem parabenizo pelos serviços prestados a baixada fluminense, a minha área Belford Roxo, me colocando a disposição sempre que precisarem. Lembrando que o ápice do desbravamento, seja na música, na arte, ou em qualquer outra função social é quando culmina em ações afirmativas.
J.César Belieny

quinta-feira, março 16, 2006

Caridade Latina

Sábado assistia o programa Caldeirão do Huck, onde se apresentava o cantor Latino, com suas “canções” e as latinetes. Ele tocava aquela “musica” e todo aquele oportunismo em torno do tema da copa do mundo. Rapidamente julguei, sem nenhuma compaixão! Primeiro o julgamento mental, sem externar, depois confabulei com minha noiva e ela comigo e ficou claro que se ele dependesse de nós para comprar seus cd’s, o cator estaria ferrado.
O que me moveu a escrever esse texto não foi o canto, a performance (hilária), nem tão pouco as rebolativas latinetes, mas o ato que emocionou a todos no auditório e acredito que todos que estavam assistindo o programa naquele momento! Foi em um daqueles quadros que mantém a audiência alta, onde uma pessoa que enviou uma carta à produção tem a oportunidade de participar de uma tarefa e caso ela seja cumprida, essa pessoa embolsa 10 mil reais! No caso era um aposentado que tinha perdido tudo numa enchente em Queimados/RJ e sua tarefa era fazer uma fila de dominós em um tempo pré determinado e depois fazê-los cairem derrubando apenas o primeiro da fila. Porém o nervosismo o impedia de realizar a fácil tarefa, deixando de ganhar o prêmio em dinheiro!
Eu, que sem nenhuma compaixão havia julgado a música do Latino, pude testemunhar a compaixão do mesmo com o aposentado, pois em um ato de caridade onde se via nos olhos rara generosidade e compaixão, disse que daria o prêmio ao aposentado, comovendo a todos! Na mesma hora o apresentador falou aquela conhecida frase, "o sucesso não é por acaso”.
O que impressiona é que automaticamente meu olhar e os meus ouvidos se modificaram com relação ao Latino, continuo achando a música de baixa qualidade, as danças bizarras, mas toda vez que o escuto lembro no ato do ato. E tal me faz refletir que, por muitas vezes, temos opiniões formadas de artistas que mal conhecemos! Conectamos -sem sentir que estamos subjulgando-a música ruim ao caráter, ou virce-versa!
Partindo do pressuposto que somos 180 milhões de habitantes e o cara vende um milhão - é o suficiente aliado ao poder da mídia para se fazer sucesso - coloco a partir desse ponto de vista que o universo conspira a nosso favor! Quando derramamos caridade, o retorno divino é derramado de diversas formas, nem sempre inteligíveis, e logo atitudes equivocadas são tomadas, como o nosso subjulgamento mencionado acima, e talvez muitos que consomem a música do Latino não saibam que fazem parte, indiretamente, do ato que foi feito por ele no programa de tv!
Ainda que não consuma sua música, terá o meu respeito sempre.

J. César Belieny